quarta-feira, 24 de abril de 2013

Crônica dos Dois Centavos

- Ainda faltam dois centavos, disse a senhora.

Com a cara amarrada, a atendente foi até o caixa ao lado para pegar um bolinho de moedinhas e retirar os centavos que restavam, já que tentou dar o troco em moedinhas, mas foi logo recusado. Isso aconteceu outro dia numa conceituada padaria de Jardim da Penha. A senhora, de boa aparência e roupa distinta, realizou uma compra de R$ 25,53 e a atendente voltou o troco de R$ 4,45 ao invés de R$ 4,47, ou seja, a padaria iria ficar com os R$ 0,02 da cliente.

O engraçado é que logo após a senhora sair do estabelecimento, a mulher do caixa simplesmente resmungou alguma coisa para quem quisesse ouvir sobre pão-duragem. Confesso que me segurei para não falar nada, afinal, aquilo não tinha nada a ver comigo. Mas parei pra refletir sobre aquela situação. A senhora que, aparentemente, tem bastante dinheiro, não precisava daqueles centavos. Por sua vez, a atendente, provavelmente oriunda de uma classe social mais baixa, seria a pessoa que precisaria poupar. Contudo, os papéis se inverteram.

Encuquei com aquilo, cheguei em casa e fiz as contas. Se, por dia, cem pessoas que forem à padaria simplesmente deixarem dois centavos pra trás, isso dá R$ 2 no fim do dia (o que ainda pode parecer pouco para alguns), R$ 60 por mês e R$ 720 ao ano! UAU!!! Esse dinheiro todo vai de graça para os cofres da padaria na forma de lucro extra! E aí? Agora dois centavos não parecem tão pouco não é mesmo, caro leitor?

Eu sou uma daquelas pessoas que, quando começam a pensar, vão longe. Aí o assunto foi tomando conta da minha cabeça. Lembrei-me das famosas lojas de R$1,99 que nunca dão o troco. Dizem as más línguas publicitárias, que esse valor é uma estratégia para o cidadão não pedir o troco e, ao mesmo tempo, achar que está pagando pouco pelo produto. Para e pensa! Se a moedinha de um centavo não fosse importante, com certeza ela nem existiria! Acredito que seja bem provável que ela esteja em processo de extinção já que nunca as vejo em circulação.

Quando fui aos Estados Unidos, achei o máximo quando vi que, ao contrário de nós, os americanos fazem questão de pagar e devolver cada centavo. Já pensou? Vivemos numa sociedade tão, digamos, esdrúxula, que nos chocamos quando as pessoas fazem o que é certo! Todavia, a triste realidade é que a maioria dos brasileiros pensam igual à atendente da padaria e acham que dois centavos não significam nada. Mais do que dinheiro, exigir cada centavo significa um direito nosso e dever do comércio! Vamos exigir o que nos é de direito. E viva à revolução!

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